segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Para fechar os olhos

Quando fecho os olhos, espetáculo de artes integradas da Cia Teatro de Bolso, revelou uma expectativa entre o público de Santa Maria (RS), explicando um pouco o aperto entre os espectadores na sala lotada do Espaço Victorio Faccin, na noite de ontem, durante o FETISM. O espetáculo levou ao palco a maturidade cênica dos artistas Tiago Teles, Cláudia Schulz e Luise Scherer em interlocução com outros criadores.



A proposta do espetáculo vem de inspirações individuais dos artistas, partindo da leitura de blogs locais, colocados à cena por meio da dança, do teatro, do vídeo, da música ao vivo, das artes visuais. Toda a engenharia que se vê no palco não é resultado, portanto, de artistas do teatro ou da dança, mas do diálogo provocado pela inserção de outros compositores artísticos, desafiando músicos e artistas visuais à integração artística.

O resultado dessa apresentação para o festival demonstra um pouco a responsabilidade que a cidade de Santa Maria encara para acompanhar os debates que se travam sobre os novos modos de fazer arte na contemporaneidade. "Quando fecho os olhos" se arrisca a uma proposta bastante em voga de abrir mão da fábula como princípio norteador da leitura de um espetáculo, provocando uma discussão sobre o que se faz hoje na dramaturgia contemporânea e o que vai ficar pro futuro. São discussões que não cessam e ganham maturidade seja nas intensas críticas à ressignificação do drama, apontada na noção do pós-dramático, seja na amplitude que os estudos da performance encontram ao aliar as inspirações na live-art - e outros movimentos de ruptura - a contribuições vindas de outros campos de estudo.



O espetáculo junta-se, então, a diversas movimentações artísticas que buscam tratar o relacionamento com a plateia de forma plural e autônoma; e buscam também ver no isolamento do espectador um papel promissor, pois não é a revolta contra "aquele que apenas olha" o lugar da força política do teatro. O desafio que a Cia Teatro de Bolso, junto com o Macondo Coletivo, carregam em seu trabalho é, a partir da proposta de Integração das linguagens, deixar o público libertar-se da leitura dramática e linear que muitas vezes se pode procurar quando se busca alguma compreensão da cena. É uma tarefa difícil, mas pelo menos o que se viu debater ontem à noite, apesar das várias tentativas de interpretação, é que o espetáculo nos toca e nos comove por algo que está além da cena, provavelmente na experiência que a dramaturgia desperta. Um desafio que se cumpre.

Texto: Clayton Nobre
Fotos: Laura Couto